Em uma viagem à Itália tive a chance de pilotar uma moto que sempre provocou muita curiosidade e está prestes a chegar ao Brasil: a Honda CB 1300F, ou simplesmente CB 1300.
Por Geraldo Tite Simões – Fotos: Divulgação
A primeira boa impressão veio logo ao assumir o posto de comando. O guidão pode ser avançado ou recuado em 20 mm por meio de uma simples regulagem no suporte. A aparência grande e pesada até engana (são 224 kg), mas felizmente o banco largo fica a apenas 790 mm do solo, o que me permitiu apoiar os dois pés no chão apesar dos modestos 1,70 m.
CB 1300
Os freios possuem dois discos flutuantes de 310 mm de diâmetro e pinças duplas herdadas da CBR 954 Fireblade na dianteira, com disco simples de 256 mm na traseira. No exterior existe a opção de sem carenagem e freio ABS.
Falando em carenagem, o conceito de estilo naked ainda causa dúvidas. A palavra inglesa significa simplesmente “nua”, mas todas as motos sem carenagem estão “nuas”, desde uma pequena 125 até esta musculosa 1 .284 cc. Por isso foi criado um novo conceito, no qual se enquadra a CB 1300: “street fighter”, ou “lutadora de rua”, que seria uma naked com motor vigoroso e componentes das esportivas. Os 115,2 cv (a 7.500 rpm) e 11,9 kgf.m de torque (a 5.500 rpm) produzidos por um motor 16 válvulas com alimentação por injeção eletrônica PMG-Fi sem dúvida a credenciam para o clube das street-fighters.
Motor acionado e o curioso escapamento 4-2-1 emite um ruído grave, porém baixo. Apesar de ter estilo parecido com o da “velha” CB 1000 Big One, de 1993, no que diz respeito à mecânica esta CB 1300F é bem diferente. Além da injeção, o motor de quatro cilindros ganhou um caminhão de torque, passando de 8,9 para 11,9 kgf.m. Como se vê, não é um motor que busca força lá em cima, em alta rotação, mas já a partir de 1.500 rpm pode-se sentir um vigor incomum.
Para quem está acostumado a motores de alta rotação é preciso algum tempo para se habituar à CBzona, porque as rotações sobem de forma mais gradual. O grande prazer proporcionado por esse motor é a retomada de velocidade. Com câmbio de cinco marchas, pode-se simplesmente acelerar em última marcha, já a partir de 2.000 rpm, sem precisar recorrer freqüentemente ao câmbio.
Numa época em que a tecnologia costuma vir das competições, a CB 1300 mantém suspensões tradicionais, com amortecedores duplos na traseira e garfo telescópico na dianteira. Todo o conjunto é regulável tanto na pré-carga da mola quanto na velocidade de retorno. Na apresentação da moto durante o Salão do Automóvel 2006 muita gente torceu o nariz para essa suspensão traseira. O toque esportivo fica por conta da balança traseira de alumínio de secção variável. Acostumado com suspensão monoamortecida, o público estranhou e ainda tachou a moto v de “atrasada”. Na verdade a suspensão mono ou bi-choque depende muito da utilização que se destina a moto. Nas esportivas e fora-de-estrada a suspensão mono é mais adequada pela característica mais progressiva. Já nas motos de turismo, urbanas, utilitárias e “musculosas” a opção pelo sistema de duplo amortecedores se mostra satisfatório.
Painel
Na prática, a CB 1300 tem uma boa estabilidade e conforto, também garantida pelos pneus 120/70-17 na frente e 180/55- 17 na traseira. O quadro tubular de berço duplo de aço não chega a ser um equipamento esportivo, mas a moto aceita bem as curvas inclinadas até rasparem as pontas das pedaleiras no asfalto. Pelo menos foi assim que devolvi a moto emprestada: com os pinos limitadores das pedaleiras bem gastos!
O banco em dois níveis é espaçoso tanto para piloto quanto garupa. Pode-se viajar tranquilamente, bom, pelo menos nas estradas européias!
Um dos destaques dessa Honda é o painel destinado aos viajantes, embora seja uma moto com pouco espaço para bagageiros. Entre os instrumentos do painel o mais curioso é uma espécie de trip diário, que marca a distância percorrida desde a primeira partida do dia até desligar definitivamente. Além disso, existe um computador de bordo com dois hodômetros parciais, um totalizador, temperatura externa, termômetro do líquido de refrigeração, relógio e autonomia até o próximo abastecimento. Como de hábito, conta com sistema antifurto HISS.
A velocidade máxima real está além do que se pode suportar sem proteção de uma carenagem, chegando a 232 kmlh. Impressionante mesmo é a aceleração, que faz de 0 a 400 metros em 13 segundos e de 0 a 100 km/h em pouco mais de 3 segundos. Ou a retomada de velocidade ela demora cinco segundos para ir de 50 km/h a 100 km/h, especial para quem gosta de sair rápido das curvas sem trocar de marchas constantemente. Na estrada, a velocidade de cruzeiro pode ser facilmente na faixa de 150 km/h (ê Europa!) desde que seu pescoço sobreviva por muito tempo. Da mesma forma que corre, também freia muito bem. O conjunto é mais do que suficiente para o uso da CBzona, diria que até é exagerado. Já existe a opção de freio ABS no modelo 2007 lançado na Europa e Estados Unidos.
O motorzão cobra caro pelo desempenho. O consumo sem preocupação nenhuma com economia (nem com multas) assustou ao apontar 6,3 km/litro. Depois do primeiro abastecimento o órgão mais sensível do corpo, o bolso, falou mais alto e o segundo abastecimento indicou 10,6 km/litro. No terceiro, fez 12,0 km/litro e, finalmente, já no perímetro urbano foi menos assustador, com média de 16,3 km/litro. Lembre que era gasolina lá da Europa, sem álcool! O tanque de gasolina gorducho tem capacidade para 21 litros, sendo 6 de reserva.
E claro que também tem alguns pontos fracos. Um deles é a suspensão traseira que se mostrou um pouco “áspera” em alguns momentos, mesmo com a regulagem intermediária. Não tive tempo de alterar essa regulagem. Outro item preocupante é o pouco esterçamento do guidão, o que dificulta muito nas manobras em baixa velocidade e no confuso trânsito romano (tão ruim quanto o paulistano, carioca, mineiro etc).
A CBzona 1300 está prevista para chegar ao Brasil ainda no primeiro semestre, o preço ainda não foi divulgado mas deverá ficar na casa dos R$ 50.000 para concorrer diretamente com a nova Bandit 1200S e até com outras nakeds como: Buell e Ducati. Em breve saberemos como a nossa versão (tropicalizada) se comportará nas estradas brasileiras.
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