Kawasaki ER-6n e Suzuki Gladius
A escolha por uma determinada motocicleta muitas vezes se dá pela emoção: ou a grande novidade do mercado, ou a mais potente, ou aquela que o consumidar acha mais bonita.
Duas nakeds japonesas, contudo, primam pela razão: Kawasaki ER-6n (R$ 29.390) e Suzuki Gladius 650 (R$ 28.900). Nenhuma delas se destaca pela potência, velocidade final ou ciclística com peças de grifes famosas. Tampouco são as mais caras no segmento das nakeds médias. Mas não deixam de oferecer vantagens, como pilotagem dócil, motores econômicos e bastante torque.
Os projetos são semelhantes e de vocação urbana: quadro de aço tubular, rodas em liga leve de 17 polegadas, posição de pilotagem mais ereta, guidões largos e motores bicilíndricos com cerca de 650 cc. Só um detalhe as diferencia: enquanto a Kawasaki usa cilindros paralelos, a Suzuki aposta na tradição de seu V2 alinhado a 90°.
Apresentada em 2006 no exterior, a ER-6n foi lançada desembarcou no Brasil em 2008. Há dois anos, recebeu uma atualização que a deixou com linhas angulosas e ciclística aprimorada. Já a Gladius, lançada em 2009, chegou ao mercado brasileiro só no ano passado, e ainda é desconhecida de muitos consumidores. Possui linhas modernas, com farol excêntrico e formas orgânicas, e motor bem acertado.
SEMELHANTES, NÃO IGUAIS
Muitos são pontos equivalentes entre a Kawasaki e a Suzuki: para começar, as duas se caracterizam pela baixa altura do assento, respectivamente em 80,5 e 78,2 cm, o que ajuda a torná-las fáceis de guiar e apoiar os pés no chão. O ângulo de esterço e a distribuição de peso também são bons, comparáveis até a urbanas de menor capacidade cúbica, como a Yamaha Fazer 250 e a Honda CB 300R.
A ciclística agrada bastante, absorvendo bem as imperfeições do piso e raramente dando “fim de curso”, como acontece em outras nakeds mais esportivas. A ER-6n leva vantagem ao transmitir maior segurança em viagens, já que responde melhor às manobras e possui freios ABS (antitratavamento), algo que faz falta na Gladius em situações emergenciais. Além disso, a traseira da Suzuki é mais arisca, demandando condução suave e fluida.
Ambas também oferecem conforto na posição de pilotagem, com a diferença de que, na ER-6n, a espuma do assento é mais espessa e estreita na frente, com pedaleiras recuadas que proporcionam uma posição mais “esportiva”. Já o banco largo da concorrente dá sensação de relaxamento, mas a espuma mais fina provoca certa dormência após muitas horas em cima da moto.
Como ambas têm quadro de aço, a diferença de peso é irrisória: 202 kg em ordem de marcha para a Suzuki, 206 kg da Kawa. No caso da Gladius, o quadro é em treliça e lembra o da Ducati Monster, com suspensões espartanas e voltadas ao conforto. O garfo telescópico convencional tem 124 mm de curso e a balança traseira, monoamortecida, 129 mm. Ambas com regulagem na pré-carga. A ER-6n usa a mesma configuração , só que com um pouco mais de curso (125 mm na dianteira e 135 mm na traseira) e regulagem de pré-carga só na traseira.
Diante de tantas semelhanças, uma diferença mais significativa está no funcionamento do motor, embora as especificações sejam (mais uma vez) muito parecidas. Com 649 cm³, o propulsor da Kawa gera 72,1 cv de potência, a 8.500 rpm, e 6,5 kgfm de torque, a 7.000 giros, enquanto o da Gladius tem 645 cm³ e atinge 72 cv, a 8.400 rotações, e 6,52 kgfm, aos 6.400 giros. O grande ponto forte das duas unidades é o torque em baixas rotações, mas é preciso ter paciência e uma longa reta pela frente para atingir as velocidades máximas, próximas a 215 km/h.
O propulsor da Suzuki se destaca pelo rodar mais suave e forte nas rotações baixas, além do câmbio com engates macios e precisos. Já a rival é mais explosiva e “áspera”, gerando ruídos e vibrações em maior intensidade. A transmissão também é dura e “grita” mais na hora de trocar as marchas.
No consumo, mais equivalência: a ER-6n alcançou 18,5 km/l na estrada, contra 18,2 km/l da Gladius. Na cidade, as posições se invereram: 20,2 km/l para a Suzuki e 19,8 km/l para a Kawa. Como o tanque da ER-6n é 1,5 litro maior (16 litros), ela ganha mais um ponto em autonomia.
E A VENCEDORA É…
Este é, sem dúvidas, um dos comparativos mais parelhos já realizados. Se for necessário escolher uma vencedora, será a Kawasaki ER-6n, especialmente por custar só R$ 490 a mais e dispor de freios com sistema ABS. Mas ambas são motos que cumprem suas propostas, sendo bem resolvidas, fáceis, divertidas e bonitas.